A glória de Deus no chamado para pregar às nações
Franklin Ferreira 23 de janeiro de 2013 Ministério Fiel Evangelização
Gostaria de usar o texto de Jeremias
1.4-19 para tratar de três temas vitais ao ministério cristão de ensino: a
vocação, a pregação e
seu conteúdo, e a coragem necessária para permanecer firme. Na verdade,
gostaria de usar o texto de Jeremias como um texto de formação, que entrelace
nossas vocações de ensino à vocação de Jeremias, que nos ajude a recuperar o
senso de chamado para pregar a mensagem de Deus às nações. Antes de continuar,
fazem-se necessárias algumas palavras introdutórias. Jeremias, que significa
“aquele que exalta o Senhor”, começou seu ministério no reinado de Josias,
que iniciou uma reforma e renovação da aliança, de curta duração. Ele pertencia
a uma família de sacerdotes e recebeu seu chamado quando tinha 18 anos, na
segunda década do século sétimo a.C., na pequena cidade de Anatote, a cinco
quilômetros de Jerusalém.
Na verdade, Jeremias viveu em meio a
um turbulento momento político na história da região: a Assíria entrara em
declínio como império, o Egito tentava recuperar sua influência, e a Babilônia
era o poder em ascensão no leste. Pouco depois, Josias foi morto em Megido e,
em rápida sucessão, três de seus filhos, Joacaz, Jeoaquim e Zedequias, e um
neto, Joaquim, sucederam-no no trono. Por não temerem a Deus, esses reis
conduziram o povo da aliança aos eventos mais devastadores da história de Judá:
a invasão babilônica, a destruição do templo e o exílio no estrangeiro.
Nós hoje vivemos numa encruzilhada da
história. A igreja tem crescido globalmente. Aqui no Brasil há muitos pastores
devotos, crentes sérios, igrejas saudáveis, sinais da obra do Espírito Santo.
Ao mesmo tempo, há superficialidade e infidelidade bíblica, traição
ministerial, divisões, idolatria por crescimento de igreja a qualquer custo. Na
esfera pública temos governos populistas, corrupção, pessoas morrendo em portas
de hospitais, violência crescendo assustadoramente e impunidade ampla, geral e
irrestrita. Há preocupantes sinais de ameaças à liberdade de culto e de
expressão. Diante desse quadro, (1) qual deve ser a imagem cultivada por
aqueles chamados a obedecer à ordem de pregar a palavra de Deus? (2) Qual deve
ser o conteúdo de tal mensagem? (3) Como aqueles chamados a pregar essa
soberana Palavra devem se portar?
1. Vocação (4-8)
Vamos nos deter um pouco nos
versículos 4-7: O relato começa com a afirmação “a mim me veio, pois,
a palavra do Senhor” (Jeremias 1.4). Essas palavras ou expressões
equivalentes ocorrem outras vezes no livro (Jeremias 7.1; 11.1; 14.1; 16.1;
18.1). A palavra way’hi (“continuou a vir”) sugere que este
chamado veio não de forma súbita, mas de forma persistente. “Antes que eu te
formasse”: estas primeiras palavras do Senhor a Jeremias revelam que foi
iniciativa de Deus o fato de ele ter sido escolhido para ser profeta. O nome de
Deus domina a cena: nessa pequena passagem o nome do Senhor é citado 12 vezes!
Ele o predestinou para anunciar a mensagem, e antes mesmo de seu nascimento,
Jeremias foi consagrado (“separado”, “santificado”) por Deus para essa
tarefa (Jeremias 1.5; cf. Gálatas 1.15). Desde a concepção até a consagração,
Deus tinha preparado cada etapa do processo, conhecendo todas as necessidades e
sabendo como supri-las. Em outras palavras, Jeremias recebeu o caráter e a
personalidade necessários para a obra profética. “E te constituí”:
significa “dei”, isto é, antes mesmo de Jeremias nascer ele foi dado.
Essa é a maneira de Deus agir. Ele fez isso com seu próprio Filho, Jesus Cristo
(João 3.16). Deus o ofereceu às nações. Deus continua enviando aqueles que ele
chama a pregar às nações, em obediência ao chamado e em imitação a seu Filho
(1Co 11.1).
Por outro lado, a reação de Jeremias
mostra que ele não era voluntário (Jeremias 1.6). Ele menciona sua idade: “Eis
que não sei falar, porque não passo de uma criança”. Na verdade, ele não
queria dizer que era uma “criança”, mas que ainda não chegara aos trinta anos,
que era o tempo quando os levitas iniciavam oficialmente seu ministério, sendo,
portanto, muito jovem para atender ao chamado. Mas Deus responde a objeção: “Não
digas: Não passo de uma criança” (Jeremias 1.7). A compreensão de que ele
tinha sido escolhido como instrumento da revelação de Deus para uma geração
endurecida forneceu a convicção de que sua missão provinha de Deus, e levou-o a
proclamar a palavra do Senhor a uma nação teimosa e rebelde. E ele recebeu
forças da comunhão constante com Deus em oração (cf. Jeremias 12-20, as cinco
“confissões” de Jeremias). “Porque a todos a quem eu te enviar irás;
e tudo quanto eu te mandar falarás”: Quanto mais próximo do exílio,
o cumprimento da profecia, mais sua timidez inicial é substituída por coragem,
o que mostra o quanto ele amadureceu em sua vocação.
Como acontece com Jeremias no
versículo 8, os servos de Deus receberam muitas vezes a ordem “não temas”,
como Abraão (Genesis 15.1), Moisés (Números 21.34; Deuteronômio 3.2), Daniel (Daniel
10.12, 19), Maria (Lucas 1.30), Simão (Lucas 5.10) e Paulo (Atos 27.24). Diante
do medo, uma emoção terrível e paralisante, Deus assegura que sustentará seu
servo. Jeremias não estaria livre de oposição e até de perigo físico, porém
cumpriria seu ministério em todas as dificuldades, porque Deus estaria com ele
para fortalecê-lo. Portanto, Jeremias submeteu-se à sua vocação. E, mesmo sem
sair de Jerusalém, ele seria um profeta às nações – a mensagem de Deus ecoaria
por Egito, Filistia, Moabe, Amom, Edom, Damasco, Quedar, Hazor, Elão e
Babilônia (Jeremias 46-51). Talvez, como Jeremias, nunca viajemos para fora de
nosso país para anunciar a mensagem de Deus. Mas, ainda assim, podemos ser
instrumentos para levar a Palavra de Deus às nações.
Parece que o estilo de vida dos
homens que exercem hoje a vocação profética no Brasil está em ruínas. Esta
vocação proclamadora foi substituída por estratégias comandadas por burocratas
religiosos munidos de planos de negócios. Pensa-se hoje no pastor como
alguém “que faz as coisas” ou que “faz as coisas acontecerem”. Pastores
construtores de templos. Pastores administradores. Pastores executivos.
Pastores seniores. Essa definição se aplica aos modelos básicos de liderança em
nossa cultura: políticos, homens de negócios, celebridades e atletas. Mas nossa
vocação precisa ser modelada por Deus, pelas Escrituras e pela oração. O
elemento central da vocação profética não é de alguém “que faz as coisas”, e
sim de alguém colocado na comunidade para estar atento e chamar a atenção ao
que Deus fala em sua Palavra, palavra de juízo e denúncia, mas palavra de
graça, misericórdia e renovação.
Neste sentido, precisamos relembrar:
Deus chama alguns membros da santa comunidade sacerdotal para pregar o
evangelho, as boas novas da livre graça de Deus. Essa vocação é uma obra
interna de Deus, que chama os servos da Palavra. E embora seja interno, o
chamado para o ministério inevitavelmente virá acompanhado por um testemunho
externo. Ou seja, aqueles chamados para a pregação da
Palavra demonstrarão dons e aptidões para o exercício do ministério. Eles são
equipados pelo Espírito Santo para pastorear, evangelizar, pregar e ensinar – e
frutos visíveis serão evidenciados por conta desse chamado interno. E será
confirmado diante da igreja este chamado interno, por conta dos frutos externos
da obra da graça que já aconteceu interiormente. Portanto, a vocação profética
não pode ser reduzida a mero trabalho.
Este pode ser quantificado e avaliado. Pode-se dizer se este terminou ou não,
assim como se pode ser contratado ou demitido. Uma vocação não é um trabalho.
A vocação profética é sobre a pregação da
Palavra, sobre a administração dos sacramentos, sobre chamar o povo de Deus a
adorar o Pai, Filho e Espírito Santo, é sobre lembrar semanalmente à comunidade
da fé os privilégios e responsabilidades da aliança.
Karl Barth afirmou
que quem não houver sido chamado para pregar, que não o faça, pois não será
pequeno mal que causará se subir ao púlpito sem haver sido escolhido por Deus
para isto. Por outro lado, se você foi chamado para anunciar a santa Palavra,
você só tem um, e um único ofício: anunciar fielmente “todo o
desígnio de Deus” (At 20.27), portando-se como alguém que pertence
exclusivamente ao Senhor.
2. Conteúdo
e Pregação (9-16)
Analisando os
versículos 9-10, percebemos que tocando na boca do jovem, Deus simboliza a
comunicação de sua mensagem. Agora o Senhor proclama sua mensagem às nações tendo Jeremias
por arauto. Para transmitir esta mensagem, Deus usa metáforas baseadas na
agricultura e na construção, constituída por três pares de verbos, os dois
primeiros negativos e o terceiro positivo: o profeta deve arrancar e
derribar, destruir e arruinar para então edificar e plantar (Jeremias
1.10). Toda a corrupção na nação deve ser arrancada e derrubada, e somente
depois disto é que se pode edificar e plantar de novo. Portanto, a mensagem do
profeta teria duas funções. Em primeiro lugar, essa mensagem era uma declaração
sobre a maldição da aliança que seria executada em seu devido tempo (Deuteronômio
28.1-68). Em segundo lugar, as bênçãos da aliança se tornariam realidade. Deus
quer renovar, reconstruir e restaurar seu povo, mas antes da renovação é
necessária a remoção radical do pecado e da infidelidade à aliança e eleição. A
ruína é inevitável, enquanto a nação persistir no pecado, mas a palavra de
renovação oferece esperança de restauração. Usando a linguagem do Novo
Testamento, Deus tem primeiro de remover o pecado, antes de o pecador começar a
crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo.
Jeremias, entretanto, é humano. Ele
reage inicialmente com medo e inadequação. São reveladas então a Jeremias duas
visões inaugurais, descritas nos versículos 11-13. A primeira é a de “uma
vara de amendoeira” (Jeremias 1.11). Em hebraico, a palavra “amendoeira”
(shaqéd) e o verbo “eu velo sobre” (shoqéd) têm som semelhante. Há um
jogo de palavras aqui que ilustra a prontidão com que Deus cumpre suas
promessas. Sempre que o profeta visse a cada primavera uma amendoeira em flor,
ele seria lembrado de que o Senhor está observando para assegurar que sejam
cumpridas todas as palavras transmitidas em seu nome (Jeremias 1.12). A segunda
visão tinha um tom mais sinistro, “uma panela ao fogo” (ou “fervendo”),
literalmente uma panela sobre a qual alguém sopra, e cuja boca se inclina do
Norte, indicando que seu conteúdo se derrama em direção ao sul (Jeremias 1.13).
Essa visão indica a invasão babilônica, que virá do norte (Jeremias 20.4).
Percebemos nos versículos 14-16 que o
exército da Babilônia executará o propósito de Deus de punir a idolatria de
Judá e a quebra da aliança do Sinai. O verbo qtr, “queimar incenso” (Jr
1.16), é usado em outras passagens significando queimar a gordura dos
sacrifícios (cf. 1Samuel 2.16; Salmos 66.15). A tensão entre o culto aos ídolos
e a adoração exclusiva ao Senhor chegaram ao clímax. A guerra viria para
interromper um modo de vida inútil, impuro e indolente, obrigando o povo a
voltar seus olhos para o que é essencial e eterno. Mas Jeremias não vai trazer
o fim por meio da espada ou da ação política. Ele é chamado a proclamar a
palavra do Senhor quantas vezes for necessário, custe o que custar, e um alto
preço será exigido dele.
Aqueles chamados ao ofício de
anunciar a Palavra de Deus não são chamados a trocar a mensagem da aliança pelo
discurso político. Nenhuma ideologia é absoluta e nem pode ser confundida com o
evangelho. Sempre que a igreja ou mesmo pastores e teólogos identificaram
determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica, essa foi
não apenas distorcida, mas acabou sendo perdida. Portanto, a preocupação
primeira daqueles chamados a anunciar a Palavra de Deus não é tanto com a
mudança da sociedade civil, mas com a reforma e renovação da igreja por meio
da mensagem de Deus. Aqueles chamados ao ofício de anunciar a palavra de
Deus não são chamados para lidar com aqueles que ouvem e se submetem à mensagem
profética como se fossem problemas. É fácil reduzir as pessoas a problemas,
pois na maior parte das vezes é fácil solucionar esses problemas. Mas os
profetas são chamados a conduzir as pessoas dos ídolos a Deus, da rebelião
para a aliança, por meio da Palavra, da adoração e da oração. Aqui somos
meros instrumentos nas mãos de Deus. As pessoas não devem ser vistas como
problemas em busca de solução, mas como pecadores que podem ser renovados à
imagem de Deus. Portanto, a vocação é sobre conduzir as pessoas a Deus,
por meio de sua Palavra, em humildade. Trata-se de permanecer junto ao povo.
A tentação à qual os profetas estão
sujeitos é considerar Deus uma mercadoria, utilizá-lo para legitimar a
idolatria (cf. Jeremias 23.21-40). Qual é, então, o conteúdo da mensagem
profética? Deve-se conhecer o Senhor (Jeremias 8.7; 24.7; 31.31-34). Este
conhecimento se dá por meio do Messias, o Renovo Justo, descendente de Davi,
que executa juízo e justiça na terra (Jeremias 33.14-18), a fonte de águas
vivas (Jeremias 2.13), o bálsamo de Gileade (Jeremias 8.22), o Bom Pastor (Jeremias
23.4), o Renovo Justo (Jeremias 23.5), o Senhor justiçam nossa (Jeremias 23.6),
aquele que trará a nova aliança (Jeremias 31.31-34). E este novo conhecimento
redunda em preocupação pelo aflito e necessitado e na prática da justiça e
retidão.
A mensagem profética é o convite para
“voltar” (Jeremias 4.1-2; cf. 9.24; 22.2, 13, 15; 23.5; 33.15). Este
termo e seus cognatos foram usados quase cem vezes neste livro e são o
significado literal da palavra “arrependimento”. Implica voltar-se dos
próprios caminhos para a aliança (Jeremias 6.16), é um chamado à comunidade
para um retorno à “verdade”, “juízo” e “justiça”. Em suma, o povo é chamado
ao arrependimento e ao conhecimento de Deus por meio do Messias. E o
remédio de Deus para o coração enfermo (Jeremias 17.9) será gravar sua lei
no coração da nova comunidade (Jeremias 31.31-34). Portanto, o verdadeiro
profeta é aquele que procura distanciar o povo do mal, enfatizando as
exigências de Deus na aliança (Jeremias 23.14, 22).
Usando a linguagem do Novo
Testamento, aqueles dentre nós chamados ao santo ministério da Palavra, devem
pregar as realidades grandiosas e magníficas de Deus e do Espírito Santo, da
Escritura e da criação, da cruz de Cristo e da aliança, da salvação e de uma
vida santa, a oração, o batismo, a santa ceia. E isso deve ser pregado no
púlpito, nas salas de aula e na visitação pastoral, ansiando por vidas moldadas
pela Palavra de Deus, renovada pelo Espírito Santo, de uma humildade disposta
ao sacrifício, que erguem a Deus um louvor santo, sofrendo sem perder o
contentamento, orando sem cessar, perseverando na santidade.
3. Segurança (17-19)
Na seção composta dos versículos
17-19 podemos ver que o desânimo que o profeta sentiu ao entender o conteúdo da
profecia é combatido por uma ordem direta: “cinge os lombos” (Jeremias
1.17), que pode ser traduzida como: “e você, prepare-se!” A frase é um
termo militar hebraico usado para descrever um soldado vestido e devidamente
preparado para tomar sua espada. Antes mesmo de nascer, ele foi convocado para
lutar nessa batalha. Não lhe foram concedidos alguns anos nos quais pudesse
refletir e decidir em que lado se posicionaria ou mesmo se iria lutar. Ele foi
escolhido. Deus o chamou para ser um guerreiro. Então, ele deve ser fiel ao
anunciar a Palavra de Deus e não deve temer a ninguém. Mais do que isso, o
Senhor incita Jeremias a se preparar para a batalha. Se Jeremias perder sua
coragem, Deus o abandonará por sua falta de fé: “Não te espantes diante
deles, para que eu não te infunda espanto na sua presença”. Devemos
entender: há uma verdadeira batalha espiritual sendo travada. Há maldade,
crueldade e infelicidade. Há superstição e ignorância; brutalidade e dor. Não
existe zona neutra no Universo. Cada centímetro quadrado é área de combate.
Deus se levanta contra tudo isso. Ele está salvando, resgatando, abençoando,
provendo, julgando, renovando: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que
há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com
toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.1-2).
Deus, então, faz uma das promessas
mais ricas que ele pode fazer aos seus servos: “Tu, pois, cinge os lombos,
dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles,
para que eu não te infunda espanto na sua presença. Eis que hoje te ponho por
cidade fortificada, por coluna de ferro e por muros de bronze, contra todo o
país, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus
sacerdotes e contra o seu povo. Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão”.
Mesmo com todos contra ele, Deus estará ao seu lado, fazendo-o invencível. A
presença de Deus lhe dá a certeza de que ele será uma fortaleza invencível,
firme como uma “coluna de ferro” e resistente aos ataques como “muros
de bronze”. E sua mensagem afetará pessoas de todas as classes sociais em
Judá, dos líderes políticos e sacerdotes ao cidadão comum.
No início do verão de 1942, uma
crente luterana, Sophie Scholl, participou da produção e distribuição de
panfletos de um pequeno movimento de resistência pacífica chamado Rosa Branca.
Ela foi presa, junto com seu irmão, Hans Scholl, e outro universitário, Christoph
Probst, em 18 de fevereiro de 1943, depois que o reitor da Universidade de
Munique os surpreendeu distribuindo esses panfletos no pátio da universidade.
Em 22 de fevereiro de 1943 os três foram julgados em menos de quatro horas,
acusados de alta traição e decapitados no mesmo dia. Suas últimas palavras
foram: “Como podemos esperar que a justiça prevaleça quando são poucos os que
estão dispostos a se doarem individualmente a uma causa justa? Um dia bonito e
ensolarado, e eu tenho de partir, mas o que importa a minha morte, se através
de nós milhares de pessoas forem despertadas e instadas à ação?” Sophie Scholl
foi martirizada com 21 anos. Mesmo tão jovem, ela se opôs ao totalitarismo
nazista, por causa de sua fé, num contexto de repressão, censura e
conformismo. Isso é coragem invencível! Se você foi chamado a anunciar a
Palavra, fique firme! A promessa e a graça de Deus estão com você! Como diz a
canção do grupo Logos:
Meu servo, não
temas! Não temas, pois eu te escolhi! Sei que é difícil, mas confia em mim! Confia
em mim e então, Tu verás o meu poder!
Durante seus quarenta anos de
ministério, Jeremias foi invencível. Diversas vezes passou por intensa agonia,
mas não traiu sua vocação. Ele foi desprezado e perseguido, mas jamais deixou
de anunciar a mensagem de Deus. Ele foi tremendamente pressionado para que
fizesse concessões, desistisse e se escondesse, porém, jamais cedeu. Cada
músculo do seu corpo foi exigido até o limite da fadiga. Mas ele foi
corajosamente “coluna de ferro” e “muros de bronze”. Muitos se
oporiam, mas Deus prometeu estar com ele e protegê-lo: “Eu sou contigo, diz
o Senhor, para te livrar” (Jeremias 1.19).
Conclusão
Jeremias foi o profeta mais rejeitado
e resistido da história israelita. Ele recebeu a ordem de não se casar ou ter
filhos (Jeremias 16.1-4), uma experiência incomum de celibato. Experimentou
oposição, castigos e prisões (Jeremias 11.18-23; 12.6; 18.18; 20.7; 26.9-19;
28.5-17; 37.11-38.28). Muitas vezes é chamado de o “profeta chorão” (Jeremias
9.1; 13.17; 14.17). Quando levado para o Egito, contra a sua vontade, caiu no
esquecimento – de acordo com a tradição, ele morreu naquele país, dez anos
depois, apedrejado por seus compatriotas, que ainda se recusavam a aceitar sua
mensagem. Mas não somos chamados a andar por vista, mas por fé. Jeremias foi
grandemente honrado pelos escritores do Novo Testamento. Sua profecia é citada
40 vezes, a metade no Apocalipse (cf. 50.8; Apocalipse 18.4; 50.32; Apocalipse
18.8; 51.59s; Apocalipse 18.24s). A mais longa citação do Antigo Testamento no
Novo Testamento é a passagem da “nova aliança” (Jeremias 31.31-34; cf. Hebreus
8.8-13). As denúncias de Jeremias contra o povo como incircunciso
de coração e ouvido (Jeremias 6.10; 9.26) foram repetidas por Estevão (Atos
7.51), uma pregação que lhe
custou a vida. As lições tiradas da visita à casa do oleiro (Jeremias
18.1-10) foram aplicadas por Paulo ao chamado dos gentios por Deus (Romanos
9.20-24). E Jeremias, que foi considerado o mais humano dos profetas,
recebeu a maior honra, ter sido comparado ao Filho do Homem (Mateus 16.14). Que
obedeçamos a nossa vocação, preguemos fielmente a mensagem recebida, que
finquemos os pés no chão com coragem, para que em tudo Deus seja glorificado.
“Todavia, o meu povo trocou a sua
Glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e
horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o
meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas,
cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jeremias 2.11-13).
“Dai glória ao Senhor, vosso Deus,
antes que ele faça vir as trevas, e antes que tropecem vossos pés nos montes
tenebrosos; antes que, esperando vós luz, ele a mude em sombra de morte e a
reduza à escuridão” (Jeremias 13.16).
“Não nos rejeites, por amor do teu
nome; não cubras de opróbrio o trono da tua glória; lembra-te e não anules a
tua aliança conosco” (Jeremias 14.21).
“Ó Senhor, Esperança de Israel! Todos
aqueles que te deixam serão envergonhados; o nome dos que se apartam de mim
será escrito no chão; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas.
Cura-me, Senhor, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu
louvor” (Jeremias 17.13-14).
Bibliografia:
Issiaka Coulibaly,
“Jeremias”, em Tokunboh Adeyemo (ed. geral), Comentário bíblico africano. São
Paulo: Mundo Cristão, 2010.
Karl Barth, Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2009.
F. Cawley, “Jeremias”, em F. Davidson (ed.), Novo comentário da Bíblia. São
Paulo: Vida Nova, s/d.
J. G. S. S. Thomson, “Jeremias”, em J. D. Douglas (ed.), Novo dicionário da
Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 794-800.
R. K. Harrison, Jeremias e lamentações; introdução e comentário. São Paulo:
Vida Nova & Mundo Cristão, 1989.
Eugene H. Peterson, Memórias de um pastor. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
Eugene H. Peterson, Ânimo; o antídoto bíblico contra o tédio e a mediocridade.
São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
J. R. Soza, “Jeremias”, em T. Desmond Alexander & Brian S. Rosner, Novo
dicionário de teologia bíblica. São Paulo: Vida, 2009, p. 324-329.
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